"Estamos aceitando a condição precária da educação como uma fatalidade? Estão me colocando dentro de uma sala de aula com um giz e um quadro para salvar o Brasil?". Durante uma audiência pública para discutir a educação no Rio Grande do Norte, este foi o clímax do discurso da Professora Amanda Gurgel (foto), que representou o quetionamento dos milhares de professores espalhados por toda a Nação.
Desde sempre a educação foi colocada em segundo plano no Brasil em detrimento à economia, à imagem externa, ao assistencialismo e, principalmente às votações por aumento de salário dos políticos. Mas hoje não vamos chicotear os políticos (sim, as corruptas costas deles vão descansar por um dia), lembremo-nos do quanto deixamos, enquanto cidadãos (indivíduos e sociedade), cair no ostracismo, grandes gestos como o dessa professora, enquanto egoisticamente colocamos nossa rotina como prioridade em relação ao crescimento coletivo. A mídia lucra com o "boom" da notícia e descarta após quinze minutos de exibição, mas o crime é que nós esquecemos junto - e somos esquecidos também.Ao deparar-mos com uma manifestação estudantil contra o aumento abusivo do valor da passagem de ônibus dizemos "bando de vagabundos! QUERO ir pra casa e eles fechando a passagem" ou "lugar de estudante é na escola e não atrapalhando o trânsito!" ou até mesmo "reconheço a importância desse gesto, mas não poderia ser em outro lugar?". Poucos são os que apoiam verdadeiramente a ponto de cortar na própria carne para dar sua parcela de contribuição.
Não nos lembramos - nem nos importamos - que talvez esses estudantes precisem deixar de fazer alguma coisa para pagar a passagem e ir à escola, ou que eles tem péssima qualidade de ensino, porque os professores não possuem a estrutura mínima para garantir uma educação no limite do tolerável. Não! Isso não importa! O egocentrismo vigora hipocritamente enquanto colaboramos com a manutenção do sistema vigente e enxergamos nossas demandas imediatas à frente do bem social.
Quando nos deparamos com essa deterioração em cadeia que representa a má-qualidade da educação o que nos importa não é o futuro do país, mas o ócio dos estudantes devido à greve. Os estudantes acabam cortando na própria carne e os professores também (a medida que se assujeitam às condições humilhantes de trabalho e tem seus micro-salários cortados durante uma legítima greve), mas todos acreditam no futuro da nação e eu até poderia acreditar também, mas o problema é que os jovens crescem, se tornam adultos e são engolidos pela rotina que os fada a tornarem-se egoistas como todos os outros, enquanto os professores continuam sacrificados a dar conta de novas turmas, ano após ano.